Estar disponível para um café. Doar-se. Entregar-se de ouvido e alma. Ceder seu tempo e atenção. Ser abrigo. Ombro, amparo. Ouvir lamentos, sofreguidão. Distrair, mudar o foco, abraçar. Atitudes tão simples, mas que fazem toda a diferença a quem precisa ser acolhido.

Deixa-me cuidar de ti. Por alguns simples instantes, por dias consecutivos, por semanas a fio, pelo tempo que for preciso.

Estou aqui, para compartilhar um café, um vinho, um chá. Desabafe, não irei te julgar.

Pode demorar-te. Não tenha pressa, não interrompa a metamorfose necessária para transformar sentimentos que são larvas, em livres borboletas que dançam levemente pelo universo.

Venha, e quem sabe encontres aqui em mim, o mínimo suficiente para driblar as aflições da lida e da vida. Quem sabe eu seja afago, um alento para tua alma em colapso.

Eu entendo tuas dores, raivas e rubores. Coloco-me em teu lugar. Já estive lá, em dias escuros e cinzentos.

Tenho empatia suficiente para isso, pois tive que aprender a me resignar. Se não quiser falar, não tem problema.

Apenas deixe-te ficar aqui, perto, próximo, como se nessa transferência de cheiros e calor, eu te curasse.

Tire as máscaras, os mantos, os sapatos apertados. Joga-te num canto, senta no chão. Dispa-se, por completo.

Não sei o que te fez me procurar. Quem sabe seja essa mania de envolver com meus braços e abraços histórias e personagens. Não sei. Mas sei que estou aqui para tentar te colocar um sorriso no rosto. Dizer tudo o que penso ou simplesmente me calar.

A gente se conhece pelos olhos. Tem horas que não é necessário verbalizar. A sincronia existe, chega a quase ser palpável.

Não minta para mim e nem para ti. Liberte teus sentimentos. Deixe-os livres. Sufocamo-nos com as palavras que não dizemos.

Elas nos corroem por dentro, destroem a nossa energia impregnando nossas entranhas.

Falar sobre o que te aflige, não será a solução, mas aliviara o peso, diminuirá o fardo.

A dois, tudo fica mais leve. É como se compartilhássemos uma sacola de emoções, cada um segurando uma alça.

Num mundo em que engolimos nossas verdades, a mentira que nos enfiam goela abaixo nos causa asco, embrulha o estômago.

E neste cenário de meias-relações, vamos mostrando uma minúscula partícula do que somos aos outros, por medo, por receio. É como se cobríssemos nossos corpos com armaduras, impossibilitando o sol de acariciar nossa pele.

E, muito além do meu entendimento, tens a minha identificação. Saiba que eu te sinto, com todas as minhas forças.

Como tão bem disse Clarice Lispector:

“Não é a toa que entendo os que buscam caminho. Como busquei arduamente o meu! E como hoje busco com sofreguidão e aspereza o meu melhor modo de ser, o meu atalho, já que não ouso mais falar em caminho. Eu que tinha querido. O caminho, com letra maiúscula, hoje me agarro ferozmente à procura de um modo de andar, de um passo certo. Mas o atalho com sombras refrescantes e reflexo de luz entre as árvores, o atalho onde eu seja finalmente eu, isso não encontrei. Mas sei de uma coisa; meu caminho não sou eu, é o outro, são os outros. Quando eu puder sentir plenamente o outro, estarei salva e pensarei: eis o meu porto de chegada”.









Jornalista, balzaquiana, apaixonada pela escrita e por histórias. Alguém que acredita que escrever é verbalizar o que alma sente e que toda personagem é digna de ter sua experiência relatada e compartilhada. Uma alma que procura sua eterna construção. Uma mulher em constante formação. Uma sonhadora nata. Uma escritora que busca transcrever o que fica nas entrelinhas e que vibra quando consegue lançar no papel muito mais que ideias, mas sim, essências e verdades. Um DNA composto por papel e tinta.