Um fora bem dado, sumir para sempre de alguém, dizer um palavrão na hora certa, descabelar quando é necessário, são escapes para se viver melhor.

Quando eu era menina, minha mãe ainda jovem, repreendia minha irmã e a mim quando falávamos algum palavrão. Ela até podia, arriscava alguns, mas nós duas, nem pensar. Aprendi todas essas boas lições para ser boa moça e respeitar os outros, e não me arrependi.

O tempo fugia e a vida ia me mostrando outros caminhos… O destino ia testando minha paciência até que me vi obrigada aprender a ligar o “fo#a-se”, isto mesmo.

Depois de tantos agradinhos para nada, de tantos recatos mentirosos, decidi me livrar do rótulo de boa moça para ser eu mesma.

Me libertei dos exageros de guardar tudo para mim, de engolir sapos, tolerar picadas de escorpiões e de traições venenosas. Deixei aquela regrinha aprendida ainda menina para não remoer e adoecer.

Um fo#a-se pode te curar, pode te livrar de uma vez por todas de situações nada agradáveis que estão apegadas em você.

Eu aprendi a ser menos “bobinha” quando não aguentava mais tantas pessoas frias, oportunistas, indelicadas, grossas; quando cansei de dizer sim para agradar e para amenizar a situação. Cansei!

Cansei tanto que me explodi em pedacinhos de fo#a-se depois de tanto chorar, de me sentir magoada e ferida. Chega! Hoje, quando não me convém, eu ligo o foda-se!

Aprendi a me aliviar, sair de mansinho das situações que testam meus limites, a me esquivar e até mesmo deletar pessoas mansinhas demais e fingidas.

Deixei para lá aquelas emoções e sentimentos que tentam nos enganar. É preciso desconectar do que não tem solução, do que nos entristece, do que nos deixa irritado.

Chega uma hora que ser boa moça, ter muita etiqueta, fazer cenas de fachada, apenas nos enojam e nos fazem doentes.

A doença da alma é a dor calada, abstrata, intocável e não tem cura.

Mais vale ter coragem de ligar o fo#a-se, de dizer um não com louvor, de arrumar as malas e partir, de tirar a maquiagem e de se despir do que sofrer calado.

Às vezes, perder a classe é tão necessário quanto ser educado, ponderado. Não tem nada mais libertador do que se impor quando alguém tenta nos envenenar, nos estragar; quando alguém tenta nos humilhar e tenta abusar da nossa boa vontade.

Um fora bem dado, sumir para sempre de alguém, dizer um palavrão na hora certa, descabelar quando é necessário, são escapes para se viver melhor.

Chega de ser boazinha demais, de ser certinha ao extremo e de ser educada, é preciso ser você mesma.

Um fo#a-se bem dado tem o poder de atenuar as aflições e aliviar a raiva.

Um fo#a-se na hora certa acalma a ansiedade, quando não aguentamos mais tantas hipocrisias e chatices.

Continuo sendo uma boa filha, minha mãe com mais idade sofreu algumas alterações, mas na essência ela continua a mesma, e eu também.

Agora ligamos o fo#a-se juntas, porque percebemos com o tempo que, o que nos causam quaisquer decepções, noites de sono e lágrimas, melhor não suportar, porque um dia melhor depende de jogar tudo para cima, sair correndo e ser feliz.

Ligue o fo#a-se e seja você uma pessoa menos preocupada com que o outro pode pensar ou achar.









Simone Guerra é mãe, escritora, professora e encantada pela vida. Brasileira morando na Holanda. Ela não é assim e nem assada, mas sim no ponto. Transforma em palavras tudo o que o coração sente e a alma vive intensamente. Apaixonada por artes, culturas, línguas e linguagem. Não dispensa bolo com café e um dedinho de prosa.