Desculpa, não posso ir. Estou com preguiça.Sim,eu não vou me defender. Eu sou mesmo uma grande e descarada preguiçosa. Eu finalmente me assumi. Chega de mentir. Não vou porque sou alguém que nasceu disposta a ser verdade num mundo cada vez mais disposto a fingir.

Mas é grave. Eu sempre soube, mas eu tentei fingir todos esses anos. A preguiça sempre me acompanhou. Sinto que é um mal do qual nunca me curarei.

Eu sofro de preguiça aguda desde muito nova, mas percebi que foi se agravando a cada dia e agora não sai mais de mim.

Eu descobri que ficava com preguiça ao me forçar a lidar com coisas das quais sempre fugi.

São vários os sintomas, mas eu sinto tédio, ao lidar, por exemplo, com gente muito cheia de si. Eu até disfarço os sintomas, mas eu não consigo não sentir preguiça de gente superficial.

Quando dou por mim, eu me vejo bocejando com assuntos banais e me espreguiçando ao ouvir bobagens que não possuem nenhuma relevância para mim.

Se eu disfarço? Ah, sim! Mas nem sempre é eficaz, porque meus olhos dão espasmos escandalosos, em protesto, por mim.

Eles entregam todo a tortura e sufoco maçante que sinto, ao lidar com pessoas que me colocam em situações assim.

Eu não tenho culpa, eu culpo meu cérebro, eu culpo minha alma, eu culpo meu coração,que não sabe ser fake.

Eu só sei que eu não sinto nada,além de preguiça, ao lidar com gente rasa, fútil, falsa, que não se preocupa com mais nada além de se vangloriar de si.

Eu até me arriscaria a nadar no fundo, mergulhar num papo fluido, mas elas se afogariam, pois só aprenderam a nadar no raso, e eu não sei ensinar o nado a quem não deseja nadar num nível mais profundo para aprender a salvar a si.

Eu tenho sentido muita preguiça de levantar da minha cama, me levar para a ducha, me perfumar para a dança em encontros que dançam só no concreto ou na grama, enquanto a cidade das estrelas me aguarda ansiosa para bailar a dança dos que sonham em dividir sonhos, secretamente ensaiados, na virada da esquina, logo ali.

Eu não me visto casualmente, eu me visto para uma festa,porque cada dia deveria ser celebrado,é praticamente um aniversário, mas eu logo desanimo, porque parece que ninguém mais comemora a vida, em si.

E isso me causa imensa preguiça.

Eu sinto preguiça de quem se mascara, porque eu só sei olhar com os olhos bem abertos, para que a pessoa que se sentar à minha frente veja a imensidão de planos, desejos, pensamentos, que carrego dentro de mim.

Eu sinto preguiça, pois eu demoro para me arrumar vestida no meu melhor sorriso, com a alegria própria de uma infante, cuja única pretensão é somente ganhar na volta para casa, um sorriso igualmente sincero para si.

Eu tenho preguiça de gente passageira, que não sabe cultivar a amizade de quem um dia foi companhia no caminhar entre as ruas, por aí.

Essa gente que quase me arranca o ar de tantos bocejos que me faz expirar.

Me sufocam, depois desejam me tragar.

Mas aí eu já desfaleci de preguiça.

Pois sou alguém que nasceu disposta a ser verdade num mundo cada vez mais disposto a fingir.









Sou jornalista de espírito vintage, que ama compor músicas ,pintar, e escrever sobre assuntos voltados à compreensão das relações humanas e da profundidade da alma. Acredito que as duas maiores forças que possuem o poder de mudar o nosso dia a dia são o Amor e a Empatia. Grata por compartilhar com vocês esta jornada.