Jornalistas correm mais risco de sofrerem AVC e fadiga devido ao estresse.

Profissionais do mundo inteiro estão propensos a terem que pagar a conta do estresse com doenças de todos os tipos, mas poucos conseguem perceber os riscos constantes que, especialmente os jornalistas, correm e correram durante a pandemia, não só em relação a exposição que a profissão exige, mas também porque receberam uma sobrecarga muito grande de trabalho.

Esses profissionais da imprensa precisaram atender à um volume de informações e lidaram com uma situação totalmente atípica, precisaram estar sempre, um passo a frente dos acontecimentos para cobrirem as mais diversas situações que se desenrolaram por conta da pandemia.

Um dos pontos mais estressantes da profissão é a necessidade de conseguirem o “furo” da notícia, aquela que ninguém publicou, aquela exclusiva, e para isso, eles precisam e precisaram se colocar em risco para entregar resultados diários.

A cobrança não vem apenas da audiência, mas também da velocidade com que precisam entregar as informações e apurar tudo para não passarem notícias falsas ou erradas.

Em seus cotidianos recebem uma enxurrada de informações e precisam estar atentos a todo instante.

Ser jornalista é como brincar de roleta russa, eles nunca sabem o que os esperam, e o tiro pode ser fatal.

Podemos comparar com o trabalho no mercado financeiro, na bolsa de valores, onde a pressão por resultados é alarmante, e os gritos surgem de todos os lados.

Mas os jornalistas, geralmente são mal remunerados, com exceção dos “âncoras de bancadas televisivas”, e o estresse do trabalho árduo, junto com a escassez de recursos, podem levar a um alarmante processo de desequilíbrio que culminará no desenvolvimento de doenças como o AVC e a fadiga crônica.

O caso mais recente foi o do apresentador da Rede Ro, Marcelo Bennesby, de 53 anos, que sofreu um princípio de AVC (Acidente Vascular Cerebral) e passou por uma cirurgia após passar mal, com forte dores no peito, dor de cabeça e mal-estar no dia 1º de janeiro de 2021. Mas basta procurar um pouco que encontramos muitos outros profissionais que passaram pelo mesmo problema.

A repórter Leniza Krauss, sofreu um AVC em 2015 enquanto cobria uma matéria policial para a Rede Record, ela tinha apenas 37 anos na época, após dois anos do ocorrido, decidiu pedir demissão e não se arrepende. Em entrevista ao Uol ela disse: “Combinei comigo mesmo de ser menos estressada”.

Há dois fatores cruciais que podem levar os jornalistas a desenvolverem essas doenças: um deles é a ansiedade que aumenta conforme a gravidade da notícia que precisam comunicar e cobrir. Quanto maior for o jornal, maior a demanda, e maior a cobrança por resultados e “furos” exclusivos.

Alguns jornalistas usam a ansiedade a seu favor para terem um melhor desempenho, até porque a ansiedade bem aplicada pode favorecer a criatividade. Pode até parecer estranho, mas ela ajuda o nosso processo criativo.

O segundo fator é a pandemia:

O problema é que, com a pandemia, não só a demanda aumentou, como também o risco com a exposição excessiva para cobrir as notícias não é favorável.

Não podemos ser negacionistas, a realidade enfrentada pelos jornalistas nesta pandemia, uma doença mortal, que provocou a alteração total da nossa rotina e das nossas vidas, que ocasionou alterações em nosso cérebro, mais precisamente em nossos mensageiros químicos.

E é simples explicar como isso ocorre e desencadeia o estresse. Por isso, vou descrever o ciclo:

Cada meta conquistada, seja um like no Instagram, uma notícia com audiência, um furo de reportagem, uma promoção, qualquer conquista, cada desejo realizado faz com que nosso corpo libere dopamina, que é o hormônio da recompensa.

A dopamina é viciante, queremos sempre liberar mais, faz parte do instinto, se ela não existisse não teríamos vontade de conquistar nada, o problema é que a usamos de maneira diferente no processo evolutivo. E é nesse momento que a ansiedade aparece, sem ela, não teríamos a pulsão para buscar a conquista.

No cenário atual estamos todos vivendo níveis altos de ansiedade e os jornalistas foram afetados tanto quanto os profissionais da saúde, de maneiras diferentes, mas com grande intensidade.

Mais ansiedade; mais doenças, risco de vida, receio econômico, tudo isso faz ativar o instinto de sobrevivência, no sistema límbico das emoções, na amígdala cerebral onde estão armazenadas memórias negativas como traumas, medos, etc.

Esse sistema é necessário para que possamos saber se aquilo é perigoso ou não para as nossas vidas.

O problema é que nosso cérebro não distingue o ataque do leão com o medo de perder o emprego por exemplo, na verdade, apenas varia a potência do problema.

Como funciona o processo:

A pandemia elevou a ansiedade que por sua vez, ativou nosso modo sobrevivência, que buscou memórias da amígdala, levando-as ao lobo pré-frontal da consciência.

Quando não resolvemos os problemas, até porque não podemos matar o vírus e nem resolver a economia ou reaver o emprego, a ansiedade é maximizada e o estresse passa a tomar conta de tudo.

Com a ansiedade elevada assim como o estresse, alteram-se os níveis de cortisol, hormônio que controla a nossa imunidade, na tentativa de eliminá-los.

A função do cortisol é ajudar a reduzir a inflamação do corpo, mas quando ele é constantemente injetado, torna-se resistente comprometendo o sistema imunitário.

Desta forma ele se torna menos eficiente contra agentes externos, podendo causar fadiga e doenças devido a baixa imunidade.

Quando está em níveis normais no corpo, age no controle dos leucócitos (glóbulos brancos), células do sistema imunológico, mas com a ansiedade constante e o estresse, há um aumento na sua produção.

Os glóbulos brancos quando produzidos em excesso podem se acumular nas paredes das artérias, reduzindo o fluxo sanguíneo e favorecendo a formação de coágulos, elevando o risco de doenças cardiovasculares, entre elas o AVC.

O jornalismo é uma das profissões com maiores chances de desenvolver a Síndrome de Burnout, por exemplo, outra doença que leva a fadiga e a uma condição de estafa mental ligada ao estresse que pode colocar em risco a vida do profissional.

É preciso que exista um cuidado preventivo constante para jornalistas que correm riscos diários, sem precedentes. Eles prestam um serviço necessário para a garantia da democracia e merecem todo o nosso respeito.

Foto: Leniza Krauss como repórter da Record (à esquerda) sofreu AVC em 2015 e pediu demissão. A direita o apresentador da Rede TV, Marcelo Bennesby que sofreu princípio de AVC no dia 1° de janeiro de 2021 e teve que passar por cirurgia.

*texto de Fabiano de Abreu – Doutor e Mestre em Psicologia da Saúde pela Université Libre des Sciences de l’Homme de Paris; Doutor e Mestre em Ciências da Saúde na área de Psicologia e Neurociência pela Emil Brunner World University;Mestre em psicanálise pelo Instituto e Faculdade Gaio,Unesco; Pós-Graduação em Neuropsicologia pela Cognos de Portugal;Três Pós-Graduações em neurociência,cognitiva, infantil, aprendizagem pela Faveni; Especialização em propriedade elétrica dos Neurônios em Harvard;Especialista em Nutrição Clínica pela TrainingHouse de Portugal.Neurocientista, Neuropsicólogo,Psicólogo,Psicanalista, Jornalista e Filósofo integrante da SPN – Sociedade Portuguesa de Neurociências – 814, da SBNEC – Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento – 6028488 e da FENS – Federation of European Neuroscience Societies-PT30079.
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Fabiano de Abreu Rodrigues é psicanalista clínico, jornalista, empresário, escritor, filósofo, poeta e personal branding luso-brasileiro. Proprietário da agência de comunicação e mídia social MF Press Global, é também um correspondente e colaborador de várias revistas, sites de notícias e jornais de grande repercussão nacional e internacional. Atualmente detém o prêmio do jornalista que mais criou personagens na história da imprensa brasileira e internacional, reconhecido por grandes nomes do jornalismo em diversos países. Como filósofo criou um novo conceito que chamou de poemas-filosóficos para escolas do governo de Minas Gerais no Brasil. Lançou o livro ‘Viver Pode Não Ser Tão Ruim’ no Brasil, Angola, Espanha e Portugal.