Eu não sei você, mas Eu observava mães com seus filhos e vivia dizendo frases que começavam com “se fosse eu no lugar dela…”. Apesar do título deste texto ter a palavra “mãe”, ele serve pra todo mundo. Porque todo mundo que se preze já falou uma frase que começou com “se fosse comigo…”.

Uma das coisas mais bacanas que a gente aprende no treinamento “Namastê” é a se colocar no lugar do outro. Fazemos uns exercícios mentais divertidos (e polêmicos) que nos fazem perceber que, se fôssemos o outro, se tivéssemos sido criados como o outro e, obviamente, se pensássemos como o outro, faríamos a mesmíssima coisa que o outro faz.

Em qualquer (e polêmica) situação.

Mas apesar de ter passado por esta experiência já há 6 anos, eu nunca havia tido o insight de aplicá-la a questões referentes à maternidade. Eu observava mães com seus filhos e vivia dizendo frases que começavam com “se fosse eu no lugar dela…”.

Se fosse meu filho, não faria isso.

Se fosse dentro da minha casa, nunca aconteceria aquilo.

Eu nunca teria coragem de fazer assim ou assado, eu jamais permitiria frito ou enrolado – e assim seguia meu baile, cheio de julgamentos que eu jurava serem inocentes. Mas que, percebo hoje, eram carregados de arrogância.

Até que Gael nasceu, e eu me vi fazendo coisas iguaizinhas àquelas que minha mãe, pessoa que talvez tenha tido a maternagem mais julgada por mim na face da Terra, fazia.

E, quando Dante chegou, de repente era eu dando bisnaguinha com milho em conserva de jantar na frente da televisão porque eu simplesmente não conseguia fazer nada melhor.

Melhor. A palavrinha que, na maioria das vezes, ferra tudo – porque só é usada quando estamos comparando situações.

E comparações nunca nos levam a nada porque, um, geralmente comparamos nossos bastidores ao palco da outra pessoa. E, dois, muito frequentemente comparamos o real com o que imaginamos ser o real.

E então saímos completamente do terreno da maternidade e caímos nos lugares comuns da vida em sociedade, alimentada por redes sociais em que a vida do outro é sempre mais bonita do que a nossa ou nos trazem realidades tão distantes da que experimentamos que a coisa mais fácil do mundo se torna julgar o que os outros estão fazendo.

Mas o mais importante de tudo continua sendo:

por que julgamos o que julgamos do jeito que julgamos?

Um dos insights mais poderosos que eu já tive nestes 7 anos de partilhas constantes a respeito de meus processos nas redes sociais foi me dar conta de que ninguém me enxergava como eu era. Como o que eu sou não é algo absoluto, é sempre relativo; e, frequentemente, as pessoas me amam e me odeiam pelos mesmos motivos.

Pausa para uma pequena explicação: se você já esteve apaixonado alguma vez na sua vida, sabe as sensações típicas que nos acometem quando a pessoa amada se aproxima de nós.

Frio no estômago, pernas bambas, coração acelerado… Ao longo de anos de civilização, fomos acostumados a julgar estas sensações como boas. Mas por que, quando somos assaltados ou recebemos uma notícia ruim, sentimos exatamente as mesmas coisas e, de repente, nos sentimos incomodados e desconfortáveis?

A verdade é que o que acontece não tem o menor sentido em absoluto, a não ser o que nós sentimos diante do que nos acontece – para que as coisas façam algum sentido é preciso que as sintamos. Que atribuamos significado.

Esta é a verdadeira origem de nossos julgamentos.

Eu era uma ótima mãe – até ter filhos e experimentar na carne cada uma das dificuldades que eu observei acontecendo por anos com outras mulheres, mas que era incapaz de compreender porque eu não as tinha sentido ainda.

Depois de tudo o que tenho aprendido nos últimos 4 anos de maternidade, observando minhas dores e curando minhas feridas, consigo ser muito mais empática com as experiências e dores de outras mulheres.

No que isso se aplica à sua vida e à sua experiência?

Eu acredito que as pessoas são a maior prova de que Deus existe, porque acredito que a vida seja uma experiência de autoaperfeiçoamento que começa no instante do nosso nascimento – e, na minha visão, autoaperfeiçoamento significa evolução e iluminação, o que só pode acontecer quando partes escuras e sombrias de nossa própria personalidade vêm à tona através da expansão da consciência.

Se todos nós nos preocupássemos mais em entender a origem de nossos impulsos de julgamento de certa pessoa em vez de apenas sair falando, opinando e dando pitaco na vida alheia, tomados pela arrogância do pensamento que “se fosse comigo…” faríamos melhor, o mundo seria um lugar bem mais gostoso de se viver.

E iluminado.

Vamos juntos?









Flavia Melissa é psicóloga, educadora emocional e criadora do Portal Despertar. Desde 2012 distribui material motivacional impactando milhares de pessoas nas redes sociais. Eleita pelo jornal O Estado de São Paulo como uma das 14 YouTubers brasileiras para se acompanhar, teve seu primeiro livro, Sua Melhor Versão - Desperte para uma nova Consciência, como best-seller no Brasil, figurando nas principais listas de mais vendidos.