“Venho através desse texto, comunicar que darei um fim nessa minha vida. Com antecedência peço desculpas a todos que sempre me amaram exatamente do jeito que sou. Mas eu cansei. Não aguento mais. Cheguei no meu limite.

Simplesmente não suporto mais continuar. Foram anos de sofrimento, de uma luta que nunca venci, de batalhas diárias que só me feriram. De sonhos deixados para trás, de amores que nunca tive coragem de viver. Meu coração não aguenta mais esse receio da vida, esse pavor de arriscar a se entregar. Estou cheio de desistir de tudo que desejo, de inventar desculpas para não ir atrás do que me faz feliz.

Cansei dessa minha própria fraqueza, que me acomoda, me deprime e que as soa como uma preguiça profunda de viver. Estou farto de cometer os mesmos erros, de frequentemente ser vencido pelos meus defeitos, de desapontar quem eu amo. Estou exausto dessa subserviência a quem quer me ver derrotado, de perder para agradar quem me ama. De abrir mão de muita coisa importante por quem não vale a pena.

Meu olhos estão fadigados de jorrar lágrimas, meu peito sufoca de tanta angústia. Não aguento mais baixar a cabeça e aceitar egoísmos, arrogâncias e rasteiras. Meu coração não aguenta mais ser quebrado, esmagado, dilacerado. Chega de fingir que não consigo ver a falsidade, o interessismo das pessoas que se aproximam e logo me deixam quando não têm de mim o que querem. Cansei de fazer de conta que não percebo as maldades, as traições.

São tantos medos. Da mudança, do novo. Medo de falhar, de ser rejeitado. Pavor de perder as coisas importantes da minha vida. Pânico do fracasso, de ser assaltado, de não conseguir cumprir o prazo. É angústia de uma desconfiança de mim mesmo que me persegue o tempo todo. Não consigo ficar em paz comigo. O futuro está sempre me cobrando, o passado sempre me assombrando. Essa ideia intermitente de que nada vai dar certo, me esgota, tira meu sono, me faz infeliz.

Por isso me despeço desse mundo de hipocrisias. Onde sou vítima de tudo e de todos. E escrevo essa carta para comunicar que essa minha vida acaba hoje! Pois, amanhã acordarei dono de mim. No leme do barco do meu destino.

A partir de agora, assumirei toda e total responsabilidade sobre meu destino, meus sonhos, minhas decisões e o amor que carrego dentro de mim. Não permitirei mais desrespeito ou destrato e me afastarei de todas as pessoas que não querem verdadeiramente meu bem, que me desvalorizam para se sentirem bem consigo mesmas.

Hoje morre tudo aquilo que deixei de ser pelos outros, tudo aquilo que não me faz bem, que me desvia do meu caminho. Falecem todas as desculpas furadas, tudo que não é suficiente, toda pobreza de espírito que, até então, habita em mim.

Dou adeus a todas as mágoas e rancores que pesam em minhas costas. Eu quero mais. Ao meu redor somente pessoas de luz e paz, porque junto com o próximo nascer do sol, borbulhará um novo EU, autoconfiante, conectado com o sentido da vida, do bem, com a forte vontade de seguir crescendo, aprendendo e com a certeza de que a alma é o balaio de aprendizado dessa vida e o porto onde ancora apenas o amor e a delícia de viver alegre.

Me despeço sem saudades de mim mesmo porque agora despertarei para a luz da vida. Serei muito, mas muito mais feliz porque ressuscitarei o melhor de mim.”

Essas fora as últimas palavras de alguém que teve de liquidar a quem era para fazer a vida realmente valer a pena. Morreu o que lhe matava todos os dias para finalmente ser livre e feliz. Depois desta carta nunca mais foi visto porque, no dia seguinte, em vez de desistir, transformou-se na pessoa que sempre desejou ser. E, como sabemos, é impossível reconhecer na borboleta, a lagarta que um dia rastejou sem esperança.

E você está esperando o que para sair do casulo e voar a vida?

Seu coração é puro, sua alma é livre, siga um caminho de luz, não espere por ninguém para libertar as maravilhas que existem dentro de você.









"Luciano Cazz é publicitário, ator, roteirista e autor do livro A Tempestade depois do Arco-íris."