Ela sorriu se olhando no espelho e aceitou muito bem o semblante que admirava. Ajeitou seus cabelos de um jeito bonito, que lhe emoldurava lindamente o rosto. Um ou outro fio branco, ainda que insistisse em aparecer, não lhe incomodavam mais.

Piscou para si mesma. Estava linda no auge de uma idade que fazia questão de não mais contar. Números não importam. Os dias felizes, sim. Era jovem de alma e só isso era importante.

Se observou feliz naquele olhar refletido. O brilho de seus olhos ofuscava qualquer lágrima que por eles já houvesse passado.

Ela agora só vivia para o presente e fazia que seus dias, fossem também, belos presentes para si mesma. Vivia intensamente. Habitava um corpo construído por anos de experiências e sabedoria acumulada. Estava abençoada por suas próprias bênçãos.

Ela sabe que venceu o tempo. Fazia coleções de bons momentos e ainda que carregasse algumas cicatrizes, não se deixava mais abalar por mais nada.

Nessas suas marcas de vida, plantou flores que agora exalam um perfume de plena alegria, que vai se fixando por onde ela passa.

Cheia de graça. Cheia de si. Sagrada.

Ela sabe o que significa cada traço da vida em seu rosto, mas não carrega mais nenhum desgosto e tem orgulho de as mostrar. Ela deixa a idade passar.

Seja como for.

A vida, essa sim ela agarra com força, a abraça e beija, como se fosse seu grande amor. O pente que lhe dá o desenho dos cabelos, sabe muitos dos segredos, que agora guarda nas memórias e sabe muito das histórias que lhe moldam esse rosto, o mais feliz que já teve.

Ela nunca se deteve, nunca ficou parada, jamais soube esperar por uma mão pra ser guiada. Essa mulher no espelho não tem idade, não tem números, nem pesos, nem medidas.

Não conta dores, não conta mágoas. Conta sonhos, vontades, amores, é amada, é vivida. Conta a vida.

Aprendeu a amar a própria existência, aprendeu a se amar pela sua essência, aprendeu a beleza de ver o tempo passar, aprendeu a apreciar verdades, almas e corações.

Aparências já não lhe enganam mais, nem são mais tão essenciais.

Aprendeu com seus desejos, venceu seus medos, derrotou os anseios e conquistou o direito de ser dona de si mesma.

Decidindo de pé no chão a própria vida, ela se guia, se dirige, se entrega a paixão que resolver querer. Ela voa alto. Ela navega mares.

Mulher forte, decidiu ser.

Aprendeu a sobreviver caminhando de salto alto sobre os problemas que no passado a faziam sofrer.

Hoje quase tudo a faz sorrir e só consegue sentir, a plenitude de si mesma. Pois é da própria alma que tira o sossego. Da paixão que anseia, ela acende o desejo.

Ela se tornou a paz e a calmaria que precisa ter. Hoje ela se vê diferente, se vê forte, se vê grande, se vê bela. Bem querer.

Hoje a pessoa mais admirável de seu enorme mundo, é somente ela. Definitivamente, aprendeu a viver.

Foto: Divulgação/Yasmina Rossi









Escrever é uma fuga que sempre uso. Não tenho temas. Não tenho destinos. Alguns devaneios e desatinos, quem sabe. Solto as palavras ao vento. Viajo ao vê-las viajando pelo ar. Recolho as que voltam nos relentos das manhãs e me lavo em seus afagos. Eu me aguo, renasço. Palavras me acariciam a alma, despertam-me sentimentos, paz, calma. Leio, releio, rascunho e escrevo. Faço dos textos da minha lida, as estrelinhas da minha vida