Sou divorciada, mãe de dois filhos, filha de pais divorciados. Foi um trajeto difícil até aqui, de um aprendizado contínuo. A lição mais importante: acaba a relação homem e mulher; pai e mãe, jamais.

Por Luciana Marques

Não foi o que eu vivi quando os pais eram os meus. Eu e minha irmã, a exemplo da maioria dos filhos do divórcio, viramos uma bolinha de ping-pong. Justiça seja feita, o jogo era mais jogado pela minha mãe, dona das maiores mágoas e decepções.

Meu pai não agiu corretamente. Nos anos seguintes, como grande parte dos homens, ele seguiu com a vida dele, amortizando a culpa com visitas esporádicas e presentes.

Quem ralou todos os dias e perdeu noites de sono, quem não tinha certeza se haveria comida na mesa e reaproveitou roupas, quem chorou de medo, foi a minha mãe.

É possível que meu pai tenha passado por maus bocados também. Que a saudade tenha doído tanto quanto a vontade consertar.

Mas paralelo a isso ele teve uma vida, outros filhos, outro casamento, viagens de férias e comida na mesa de outra família.

Minha mãe abriu mão da vida dela, foi julgada e condenada, como é comum às mulheres divorciadas que precisam ter conduta impecável porque são mães, porque são mulheres… serem humanas vira um mero detalhe.

Por tudo isso que mais tarde passei a enxergar claramente, eu e minha irmã fomos filhas do divórcio, atingidas pela direita implacável da raiva de um casamento desfeito, que se sobrepôs ao fato de que para sempre aquelas duas pessoas que não souberam se ajustar seriam pais.

É isso o que infelizmente acontece na maioria dos casamentos desfeitos. Começa uma disputa pelo amor e admiração dos filhos, uma necessidade de que a raiva seja transferida e que o filho também sinta todas as coisas negativas sobre a pessoa que o outro foi.

Os casais se esquecem da responsabilidade de se criar filhos. Que qualquer falha de caráter ou irresponsabilidade que a figura do pai e mãe apresentem, não é problema do antigo casal, mas uma conta a ser paga entre os pais e filhos, mais tarde, cobrada pela própria vida.

E se esquecem de que a decepção, o abandono, a imaturidade ou infidelidade aconteceu entre eles – casal, e não na figura que o pai ou mãe representam para o filho.

Eles não precisam saber dos nossos motivos, das dores, da raiva. Eles só têm que cultivar o amor e respeito pelo pai e mãe.

Acho triste quando assisto uma relação entre pais e filhos imergir na mágoa que homem/mulher carregam um do outro.

Quando de forma irresponsável um ou outro narram coisas reprováveis que o outro fez, para deixar claro para o filho o tipo de pessoa que o outro foi.

Para os filhos, isso não importa. Não deveria jamais haver disputa, transferência de mágoas, relatos de histórias vividas entre homem e mulher.

O tempo, o senhor tempo passa. Não destrói amor, não desfaz laços. Desconstrói ilusões, sim. Mostra realidades.

E deveria caber somente aos filhos a decisão de ser capaz de amar ou não aquele ser imperfeito que figura hoje como pai ou mãe. Porque se essa mesma pessoa é falha como parceiro, não é ao filho que cabe a dor e o julgamento.

Sou divorciada, mãe de dois filhos, filha de pais divorciados. Os filhos vivem comigo. Houve razões muito importantes para que eu e o pai deles não fôssemos mais capazes de sermos um casal. Razões que são totalmente dispensáveis quando o assunto é sermos pais.

A mim importa que eles possam ter a figura paterna presente, que possam fazer uma chamada de vídeo animados com alguma novidade, ou escolherem não conversar hoje.

A mim importa que eles saibam que tento ser todos os dias a melhor mãe. A nós importa preservar a figura de pai e mãe que escolhemos ser.

Não, eu não sou uma ex conformada, com uma pensão gorda ou uma vida fácil. Para sempre eu levarei mágoas comigo, enquanto mulher.

Eu, como minha mãe, como tantas mães, trabalho todos os dias para garantir o alimento dos meus filhos.

A vida tem sido difícil, mas não posso reclamar. Tampouco posso ensinar meus filhos que o pai foi responsável pelo que houve de bom ou ruim desde que ele se foi.

A eles só importa amarem e respeitarem a figura paterna; a figura materna. Não serem parte da estatística triste dos filhos do divórcio, despejando nos pais uma mágoa maturada pelos adultos irresponsáveis que os cercam.

Casamento acaba. Filhos são para sempre. Não são eles quem se separam e eles não precisam compreender as nossas dores.

Precisam apenas saber que, acima de qualquer coisa, eles têm pai, eles têm mãe. Sempre.

Acaba a relação homem/mulher; entre pais e filhos, jamais!









Viva simples, sonhe grande, seja grato, dê amor, ria muito!