A falta de autoconhecimento gera nas pessoas uma insegurança atroz. Todos, em maior ou menor medida, já passamos por fases de profundo desconhecimento de nós mesmos.

A insatisfação com os resultados de nossas atitudes, os medos e as crenças negativas que nos impedem de atingirmos nossas metas e construirmos nossos sonhos, a sensação constante de fracasso em algum campo da vida, o sentimento de inadequação, o medo de se olhar no espelho e ver uma imagem desagradável, a culpa, o arrependimento e a solidão. Todas estas emoções juntas e misturadas fazem um estrago danado em nossas vidas até o momento em que decidimos descobrir por que motivo vivemos em tal inferno.

Todos conhecemos pessoas que fazem questão de não se conhecer.

Em geral, são aquelas que acham terapia coisa de maluco, detestam literatura de auto-ajuda, consideram religião o ópio do povo, estão sempre a apontar os erros alheios e se consideram excelentes em todos os aspectos da vida: são perfeitos em família, no trabalho, entre os amigos. Também gostam de ser valorizados, anseiam por elogios e levam todas as críticas para o lado mais pessoal possível.

Neste afã pela apreciação, demonstram grande carência de reconhecimento. Vivem em função dessa necessidade e não medem esforços para demonstrar o quão bem-sucedidas são as suas vidas.

A falta de autoconhecimento gera nas pessoas uma insegurança atroz. Todos, em maior ou menor medida, já passamos por fases de profundo desconhecimento de nós mesmos.

Não raro estes conflitos atrapalham nossa vida afetiva, profissional e familiar, contribuindo para dramas que poderiam ser melhor esclarecidos e solucionados, ao menos internamente.

Partir em busca do autoconhecimento é uma trajetória sem volta para os mais corajosos. Os ganhos são imensuráveis, mas só quem não tem medo de enfrentar os desafios da mudança consegue vislumbrá-los.

Para a maioria, enxergar-se como uma pessoa cheia de sentimentos negativos como rancor, ciúme, maldade, egoísmo, medo, inveja e carência é algo inimaginável.

Por isso, podem até mesmo fazer alguns movimentos no sentido da descoberta mas, ao lidarem com os primeiros sinais de suas enormes negatividades, desistem do processo. É como se estivéssemos no filme Matrix.

Você tem duas pílulas a escolher: uma é vermelha e outra azul. A vermelha te faz esquecer da verdade e você mergulha na inconsciência de uma vida de sonhos. A azul, por outro lado, te põe em contato com a realidade nua e crua, com a verdadeira pessoa que você é. Qual você vai escolher?

Escolher a pílula azul é fazer uma grande jornada para dentro de si mesmo. É buscar consciência nas atitudes, consistência nos valores. É tornar-se um ser humano conectado com um propósito de vida. São as pessoas determinadas, destemidas, que valorizam as experiências como aprendizados, que vão colocando de lado a vaidade e as carências para encontrarem na simplicidade a verdadeira paz interior. Nós as reconhecemos quando vemos atitudes altruístas, sinceras, despojadas de reconhecimento e que exalam vontade de viver.

Já quem escolhe a pílula vermelha prefere uma vida aparentemente sem dificuldades, focada numa falsa calmaria e numa felicidade de vitrine. Você percebe que algo está errado naquela pessoa, mas não sabe bem definir o que é. O motivo é que existe muita sujeira debaixo do tapete, muitos dramas não revelados, muita vergonha e preconceito não digeridos. Ao preferir não enfrentar a negatividade que seu inconsciente lhe aponta, o ser vive uma vida de mentira. E não existe nada pior para a auto-estima do que reconhecer, lá no fundo, a própria incompetência.

Ao escolher voltar-se para fora de si e não tomar contato com os dramas que todos carregamos, a pessoa vive uma personagem, desempenha um papel para se sentir valorizado.

Sem o autoconhecimento, vamos nos tornando inconsistentes e sem propósitos, crentes de que a vida é isso mesmo: uma seqüência de anos em que eu apenas trato de parecer o menos fraco e perdedor possível.

Todos temos dentro de nós um universo de emoções positivas e negativas. Fingir que você só possui as positivas não irá trazer-lhe mais felicidade. Pelo contrário. Com a cabeça no travesseiro, sempre sabemos em que erramos.

O melhor é enfrentar com coragem, amor-próprio e muito auto-perdão o medo de se reconhecer cheio de defeitos e emoções conflitantes.

Aos poucos, você irá desvendar seus piores sentimentos e atitudes, permitindo transformar-se pouco a pouco na pessoa que você admira e perdoa.

A construção de si mesmo é trabalho para a vida inteira, mas se não o iniciarmos, teremos uma vida inconsistente e superficial. Poderemos até pensar que vivemos em um comercial de margarina, mas, lá no fundo da alma, sabemos que não.









No jornalismo, aprendi a ler para questionar e a escrever para transformar. Mente inquieta e curiosa, gosto do controverso, abomino clichês e trabalho por uma sociedade com mais respeito e menos egoísmo. A frase que resume meu atual momento de vida é esta, de Ermance Dufaux: "Faça as pazes com suas imperfeições. Descubra suas qualidades, acredite nelas e coloque-as a serviço de suas metas de crescimento. Essa é a fórmula da verdadeira transformação". Vamos juntos aprender a pensar fora da caixinha, vamos ser como pirilampos na noite escura. © obvious: http://obviousmag.org/reforma_intima/autor/#ixzz5cxcpNv4Q Follow us: @obvious on Twitter | obviousmagazine on Facebook