A sociedade pós pandemia: o que se ganha e o que se perde?

Em uma sociedade pós pandemia ganharemos novos costumes e moldaremos antigos comportamentos.

Nosso organismo já sofria com os efeitos de uma inadaptação à essa brusca virada em nossa chave cronológica.

Foi preciso milhares de anos para nos adaptarmos a certas mudanças; a internet, por exemplo, chegou e nos mudou de forma abrupta. Como consequência o sentimento de solidão nos acompanhava. Já vinhamos nos sentindo sós, em meio a tantos rostos virtuais.

A evolução exige de nós que nos mantenhamos unidos, em grupos, e nos inclina a uma forte necessidade de contato físico. Mas forçosamente nos vemos impelidos a um tipo de interação dentro de uma nova realidade que é a virtual.

São milhares de rostos que podemos conectar a qualquer momento, mas sentíamos e ainda sentimos que nenhum deles consegue nos enxergar como somos verdadeiramente, ou até mesmo, quando fingimos ser quem não somos, e forjamos um perfil que gostaríamos que fosse real.

A força da presença física, traz uma outra dimensão a comunicação humana, para além da palavra dita ou escrita, ela causa um impacto emocional que traduz a essência singular de cada um de nós, através do nosso comportamento.

A era do “selfie” fez com que o “eu” ganhasse destaque e o anonimato deu lugar a uma fama repentina, generalizada.

A vida virtual tentou esconder a nossa humanidade, enquanto pensávamos que ela poderia ser manipulada através de uma tela.

Ganhamos voz em forma escrita e falada, e percebemos que a nossa voz tinha e ainda tem o poder de percorrer o mundo em frações de segundos, tanto para o bem, quanto para o mal.

Após um período de adaptação entendemos que, simplesmente, dizer o que se quer dizer poderia ser um “tiro o pé”, principalmente se passamos a não mais nos preocupar com o julgamento alheio.

Com o tempo, percebemos que o linchamento virtual é tão prejudicial quanto o presencial, e apesar de não nos machucarmos fisicamente, a nossa moral e o nosso emocional poderiam ficar muito feridos.

Mesmo que alguns se sentissem “aparentemente” protegidos pela tela que nos separa, as agressões e as fake news demonstraram o poder que possuem, e nós nos tornamos seus reféns.

Muitos criminosos da internet saíram impune, outros foram condenados, e outros ainda serão, pois mesmo aqueles que pensam que nunca serão descobertos, um dia colherão os frutos amargos da exposição negativa que fizeram do outro e de si mesmos.

Na vida não há prêmio nem castigo, apenas consequências de ações.

A Pandemia tornou o ser humano uma ameaça para si e para os seus, nos forçou a solidão, e modificou o nosso olhar para a importância do virtual e para o futuro das relações humanas. Nos forçou o distanciamento social, e nos obrigou a nos aproximar de nós mesmos.

De maneira impositiva e literal, tivemos que deixar um pouco as “selfies” de lado, a exposição e ostentação das nossas vidas “perfeitas”, para enaltecer o “self”, ou seja, o Si mesmo.

William James, um dos pais da psicologia, fez a distinção, em 1892, entre o “eu”, como a instância interna conhecedora, e o “si mesmo”, como o conhecimento que o indivíduo tem sobre si próprio.

Carnotauros (2014), partindo da definição de James e do trabalho da S. N. Cooley, entendeu que o “si mesmo” se baseia em três experiências básicas do ser humano:

1) a consciência reflexiva, que é o conhecimento sobre si próprio e a capacidade de ter consciência de si;

2) a interpessoalidade dos relacionamentos humanos, através dos quais o indivíduo recebe informações sobre si;

3) a capacidade do ser humano de agir.

A pandemia nos fez iguais. O vírus não atinge apenas os pulmões dos pobres e não imuniza os ricos, para ele, ninguém é melhor que ninguém.

A finitude é um axioma, e ela é totalmente democrática.

Se já nos sentíamos perdidos, ao perdermos momentaneamente o contato físico, passamos a valorizá-lo como nunca antes, pois é o que dizem: Só damos valor as coisas e as pessoas quando as perdemos.

Dessa perda surgiu a necessidade de amor ao próximo, surgiu também a certeza de que dependemos uns dos outros para viver, e mais forte ainda, dependemos uns dos outros para que possamos sobreviver ao vírus.

Os países que obedeceram as determinações de isolamento social, em respeito a própria vida e a vida dos demais, aos poucos, estão se abrindo para um novo normal, onde tudo parece estar bem diferente.

Aquelas sociedades que ainda não tomaram consciência da gravidade da pandemia e de sua força, e que não respeitaram o isolamento social, estenderão os seus dias de sofrimento e demorará ainda mais até que possam experimentar esse novo estilo de vida.

Perdemos vidas, perdemos recursos financeiros, perdemos o contato com a família e com os amigos, perdemos a oportunidade de lazer, de diversão e confraternizar, perdemos a liberdade de ir e vir.

Mas ganhamos tempo com a família, ganhamos a oportunidade de dar atenção de qualidade aos nossos filhos, ganhamos uma maior consciência planetária, ambiental, e principalmente, constatamos, finalmente, a importância do autoconhecimento e do desenvolvimento da inteligencia emocional.

Alguns tiveram ganhos que mais parecem perdas. Ganharam pânico, medo, depressão, ansiedade, dores, desenvolveram nesse período algumas doenças autoimunes, frutos do descompasso emocional e do foco constante no que está fora e não pode ser controlado.

Outros perderam a necessidade de gastar, de comprar, e perceberam que quase nada do que faziam antes, fazia sentido, e perderam a vontade de perder tempo com o que não acrescenta, nem importa.

Ganhamos tempo para valorizar o que não valorizávamos como devíamos.

Ganhamos tempo para repensar, projetar, reinventar e aproveitar a vida interior.

Passamos a nos preocupar com o próximo, com o vizinho, com o sem teto, com os profissionais da saúde, com os idosos, que antes, nos faltava tempo e compaixão.

Humanos não são uma ameaça para outros humanos! Humanos devem ser exemplos uns para os outros!

A evolução não espera a vontade do homem, nós é que precisamos adquirir conhecimento para nos adaptar a essa nova realidade, o quanto antes, essa será a base para uma vida em equilíbrio. E para nos sentirmos felizes nesse novo que já chegou, precisaremos uns dos outros, precisaremos nos unir, precisaremos cuidar uns dos outros.

*texto de Fabiano de Abreu – Doutor e Mestre em Psicologia da Saúde pela Université Libre des Sciences de l’Homme de Paris; Doutor e Mestre em Ciências da Saúde na área de Psicologia e Neurociência pela Emil Brunner World University;Mestre em psicanálise pelo Instituto e Faculdade Gaio,Unesco; Pós-Graduação em Neuropsicologia pela Cognos de Portugal;Três Pós-Graduações em neurociência,cognitiva, infantil, aprendizagem pela Faveni; Especialização em propriedade elétrica dos Neurônios em Harvard;Especialista em Nutrição Clínica pela TrainingHouse de Portugal.Neurocientista, Neuropsicólogo,Psicólogo,Psicanalista, Jornalista e Filósofo integrante da SPN – Sociedade Portuguesa de Neurociências – 814, da SBNEC – Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento – 6028488 e da FENS – Federation of European Neuroscience Societies-PT30079.
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Fabiano de Abreu Rodrigues é psicanalista clínico, jornalista, empresário, escritor, filósofo, poeta e personal branding luso-brasileiro. Proprietário da agência de comunicação e mídia social MF Press Global, é também um correspondente e colaborador de várias revistas, sites de notícias e jornais de grande repercussão nacional e internacional. Atualmente detém o prêmio do jornalista que mais criou personagens na história da imprensa brasileira e internacional, reconhecido por grandes nomes do jornalismo em diversos países. Como filósofo criou um novo conceito que chamou de poemas-filosóficos para escolas do governo de Minas Gerais no Brasil. Lançou o livro ‘Viver Pode Não Ser Tão Ruim’ no Brasil, Angola, Espanha e Portugal.